Posted by Lara C. P. Quiche -
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Ainda não sei ao certo se entendi o filme completamente. Caso precisasse descrevê-lo com apenas uma palavra, seria mistério. Terrence Malick já mostrava traços marcantes de sua personalidade como cineasta em "Terra de Ninguém". Em "A Árvore da Vida", ele pôde expandir sua estética e percepção, abordando a vida e a morte. A fotografia do filme lembra a natureza vívida e verde do verão e da primavera. Senti algumas cenas meio descontextualizadas e perdidas no decorrer do filme, contudo, como já disse, é um filme para ver visto e revisto. A história divide-se entre a visão da mãe e do pai sobre a perda do filho e a visão do irmão mais velho.
Uma das partes mais ousadas é a que a mãe conversa com Deus e procura imaginar onde estará seu filho. Durante esse monólogo são mostradas cenas impactantes, às vezes até mesmo incompreensíveis, da natureza. O pai, o senhor O'Brian, no caso Brad Pitt, denota sentir remorso por suas atitudes em relação ao filho falecido. Porém inicialmente não nos é possível entender o porquê. De repente, o rumo da história se desvia para o irmão mais velho, Jack, interpretado por Sean Penn. Encontramos ele já adulto, estabilizado e, no entanto, infeliz. Em um pico de lucidez, ele constata: " O mundo foi entregue aos cães. As pessoas são gananciosas e ficam cada vez piores." A impressão passada pelas primeiras cenas em que Jack aparece é de confusão e opacidade, como se algo estivesse fora do lugar.
Em seguida, há um flashback. Então o filme de fato começa. Acompanhamos o nascimento dos três filhos do casal O'Brian, os primeiros passos e as primeiras palavras. Malick começou a contar sua história tendo em vista a morte para depois mostrar o surgimento da vida. É interessante observar a forma como as pessoas encaram esse dois acontecimentos.
Aos poucos, é revelado o caráter do pai. Aliás, confesso que Brad Pitt conseguiu me surpreender e apagar absolutamente meu preconceito. Ele dá vida a um pai de família autoritário, opressivo e frustrado, que não conseguiu realizar seu sonho de ser um pianista e deseja ver seus filhos "vencerem na vida" (seja lá o que isso quer dizer). Os filhos vivem presos a formalidades inacreditáveis, não conseguindo sequer se afeiçoar ao pai. Jack, o mais velho, é o mais revoltado de todos. A mãe, ao contrário, representa toda a leveza da família. A atriz que representa a senhora O'Brian, chama-se Jessica Chastain. Eu não conhecia nenhum de seus trabalhos anteriores, todavia, fiquei encantada pela sua atuação.
Quando o pai perde o emprego, a família é forçada a se mudar. Com essa perda, o pai reavalia suas atitudes. Coloca tudo em uma balança e percebe que seu único bem é a sua família. Nesse momento, a história se torna muito mais subjetiva do que até então. O foco volta para o presente, para a visão do irmão mais velho. Prefiro omitir detalhes sobre o final, uma vez que eu mesma não soube muito bem como interpretá-lo. Na minha opinião, o filme é a estrada percorrida pela família para tentar entender a morte. Por isso as lembranças, o começo da vida retorna para que se possa compreender melhor o fim. E o final do filme, para mim, foi a paz da compreensão do pai, da mãe e dos filhos sobre o mistério da vida e da morte.
Esse filme exige paciência e atenção. Não é um filme fácil de ser assistido, portanto há quem o odeie e quem o ame. Ele foi indicado ao óscar em três categorias: melhor filme, melhor direção e melhor fotografia. Conhecendo os padrões atuais dessa premiação, duvido que ele vença nas duas primeiras alternativas citadas, contudo, acho que o óscar de melhor fotografia é mais do que merecido. É obrigatório.