Hoje eu vim parar aqui sem saber ao certo como ou por que. Só fui abrindo as páginas e, intuitivamente, meus dedos foram tateando um trajeto velho conhecido, até que, por fim, eu me deparei com essa página em branco. E um fluxo de pensamentos buscando se libertar. Mudanças. O ano de 2021 está sendo o ano das mudanças. No começo, eu tinha um plano traçado que seguia um padrão clássico para mim até o momento: o de seguir a ordem natural das coisas. Ensino médio; Faculdade de Medicina; Residência. As cartas estavam dadas, era só seguir. E eu segui por alguns meses. Mas algo não se encaixava, eu seguia sem acreditar verdadeiramente naquele caminho. No fundo, eu só seguia,  sem ter parado para refletir sobre o que eu realmente queria. Então eu parei. E não era nada daquilo. Chegava a hora de tomar minhas próprias decisões, assumir o controle real do rumo da minha vida. O que eu queria fazer? Onde eu queria estar? Não eram perguntas fáceis de responder, ainda mais com opções diversas. Assim, de repente, não mais que de repente, tudo mudou. Minhas prioridades mudaram. O vento soprou e mudou meu barco de direção. Essa foi a primeira grande mudança. Depois veio a mudança de apartamento. Lidar com lembranças materializadas em forma de mil e um objetos diferentes, fotos, livros, anotações. Carregar tudo o que me era caro para o quinto andar do novo prédio... sem elevador. Só subiu o que fazia sentido. Muito ficou para trás. O peso do que ficou no passado representava tudo aquilo que já não era mais parte de mim agora. Nesse processo de renascer, eu perdi pedacinhos de mim, desgarrei-me do que já não sou. No entanto, foi difícil ver indo embora antigos eus. Perdi também pertences queridos que, sem querer, foram embora junto com o que não me cabia mais. Doeu. Um mundo de canetas e marca-textos, um calendário e clips que se perderam. Talvez para encontrar outra pessoa que esteja precisando escrever uma nova história também. O que me restou de canetas é mais do que suficiente para recomeçar. E talvez tenha sido isso que me trouxe até aqui. Escrever sempre foi sagrado para mim e perder lápis e canetas me fez pensar sobre como eu havia me perdido dessa minha parte. 

Às vezes, perder e se perder é a melhor maneira de encontrar um sentido e de se encontrar. 

Assim, aqui estou eu me reencontrando.