A lição do dia...
A ti, noite, um pouco de Drummond.
Passagem da noite
É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se desânimo.
Sinto que nós somos noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra.
E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo.
É noite no submarino.
É noite na roça grande.
É noite, não é morte, é noite
de sono espesso e sem praia.
Não é dor nem paz, é noite,
é perfeitamente noite.
Mas salve, olhar de alegria!
E salve, dia que surge!
Os corpos saltam de sono,
o mundo se recompõe.
Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar: mesmo nas canções;
De novo andar: as distâncias,
as cores, posse das ruas.
Tudo o que à noite perdemos
se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras; que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou; não nos diluímos.
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado,
o essencial é viver!
Carlos Drummond de Andrade
Sempre quis escrever um poema sobre a noite. É noite. Noite de domingo. Noite que não deseja findar, como todas as noites de domingo. Porém a pior das noites se alegra com os versos de Drummond. Sendo assim, que venha mais uma manhã clara de segunda, pois o essencial... Bom, o essencial é viver.
Sobre o verbo "piorar"...
De repente e não mais...
Algumas palavras...
Graciliano Ramos soube explicar como ninguém um dos motivos pelos quais eu escrevo. Ele dizia, " uma experiência literária realizada, uma experiência humana superada." Nem sempre é assim. Mas, pelo sim, pelo não, eu continuo escrevendo, uma vírgula e até.
Uma noite de céu estrelado...
Os dias passam com a efemeridade de um suspiro de alívio. Dentre eles, um dia especial, cujo desfecho foi banhado pelo luar, pelo café e pelas nossas vozes desafinadas a cantar. A noite nunca é longa o suficiente quando se tem as companhias certas. A lua persiste no céu enquanto nossos pensamentos nela estiverem. E o sol cisma em não aparecer para nos manter mais tempo juntos. Os olhos fixos nas estrelas percebem um movimento inusual. Mirando a quebra da mobilidade estrelar, respiro a brisa da noite. Gravo a imagem e fecho os olhos. Sei que além, muito além, talvez haja esperança. Um pedido não consegue não ser feito. Um desejo egoísta, mas puro e inevitável. Quatro xícaras de café esquecidas no chão ao nosso redor. Duas ausências. Outra presença que se faz ausência: evade-se para o sono sob o concreto frio. E uma consciência confusa coexistindo no mesmo corpo onde um coração partido lamenta. A música certa para a pessoa errada. Os acordes soando, soando... Trazendo a cada som, a cada verso, um par de lágrimas sem... razão? Não. Sem razão não. Há, sim há. O que não há é a coragem para admitir que as lágrimas nunca são sem sentimento. Que por trás delas sempre há uma razão.
Uma prece...