Mrs. Dalloway

"Não, agora nunca mais diria, de ninguém neste mundo, que eram isto ou aquilo. Sentia-se muito jovem; e, ao mesmo tempo, indizivelmente velha. Passava como uma navalha através de tudo e ao mesmo tempo ficava de fora, olhando. Tinha a perpétua sensação, enquanto olhava os carros, de estar fora, longe e sozinha no meio do mar; sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse."

Mrs. Dalloway - Virginia Woolf

Retrato...

   Irrequieto, o jovem repousou a cabeça sobre chão de madeira empoeirado. Os cabelos anarquistas turvaram ainda mais a visão já tão confusa do mundo. Quis erguer-se. Romper a inércia. Sair porta a fora e lutar pelos seus ideais, cometendo erros dos quais no futuro pudesse orgulhar-se. Tanto criticava, tanto pensava: nada fazia. Tal e qual toda a sua geração. Jovens que criticam o descaso com a educação e com a saúde. A política e o capitalismo.  São esses mesmos jovens que passam dias na frente de notebooks, iPad's e cia, conectados a redes sociais falando, falando, falando. Como são cansativos! Que desperdício de palavras e escassez de atitudes. Enchem seus mundos virtuais de revolta contra políticos corruptos e contra as desigualdades sociais. Vivem pregando mensagens de "salve a natureza", mas a cada seis meses aparecem desfilando com um novo celular.
   "E eu estou preso à mesma realidade. Afinal, que faço eu?" Pensou o jovem tomado de uma infelicidade ilimitada consigo mesmo. A resposta veio vazia. Resumida a um "nada" seco como a tosse que irrompeu sofrivelmente de seu peito. Nada fazia. Além de querer, como tantos outros, mudar mundo. E o que fazer com uma geração de jovens com tanta vontade e nenhuma ação?