"
(...)
    - E agora? O que acontece quando não se tem mais nada com o amor?
    Quase ele levou de novo a mão no bolso para pegar o cigarro, onde fumara o último?
    - Quando acaba o amor, sopra o vento e a gente vira outra coisa - respondeu ele.
    - Que coisa?
   - Sei lá. Não quero é voltar a ser gente, eu teria que conviver com as pessoas e as pessoas... - ele murmurou. - Queria ser um passarinho, vi um dia um passarinho bem de perto e achei que devia ser simples a vida de um passarinho de penas azuis, os olhinhos lustrosos. Acho que eu queria ser aquele passarinho.
     - Nunca me teria como companheira, nunca. Gosto de mel, acho que quero ser borboleta. É fácil a vida de borboleta?
    - É curta.
    O vento soprou tão forte que a menina loura teve que parar porque o avental lhe tapou a cara. Segurou o avental, arrumou a fatia de bolo dentro do guardanapo e olhou em redor. Aproximou-se do banco vazio. Procurou os forasteiros por entre as árvores, voltou até o banco e alongou o olhar meio desapontado pela alameda também deserta. Ficou esfregando as solas dos sapatos na areia fina. Guardou o bolo no bolso e agachou-se para ver melhor o passarinho de penas azuis bicando com disciplinada voracidade a borboleta que procurava se esconder debaixo do banco de pedra."